quarta-feira, 8 de junho de 2011

Nas garras da Graça- Max Lucado parte 3

Pela primeira vez, o amontoador de pedras olhou para cima.
— Como você ousa falar com tanta irreverência? Meu pai não irá me perdoar facilmente. Eu pequei. Cometi um grande pecado! Ele nos disse para evitarmos o rio, e nós desobedecemos. Sou um grande pecador. Preciso trabalhar muito.
— Não, meu irmão, você não precisa de muito trabalho. Você pre­cisa de muita graça. Você não possui força nem pedras suficientes para construir a estrada. Foi por isso que nosso pai me enviou. Ele quer que eu o leve para casa.
— Está dizendo que não consigo? Está querendo dizer que não sou suficientemente forte? Veja meu trabalho. Veja minhas rochas. Eu já posso dar cinco passos!
— Porém ainda faltam cinco milhões à frente!
O irmão mais novo fitou o primogênito com raiva.
— Eu sei quem é você. Você é a voz do mal. Está tentando seduzir-me e afastar-me de meu santo trabalho. Para trás de mim, serpente! — E ele jogou no primogênito a pedra que ia pôr no rio.
— Herético! - gritou o construtor de estrada. - Deixe esta terra. Você não pode me fazer parar! Construirei esta passagem, e apresentar-me-ei ante meu pai. Então ele terá de perdoar-me. Eu conquistarei o seu favor. Serei merecedor da sua compaixão.
O primogênito balançou a cabeça.
— Favor conquistado não é favor. Compaixão merecida não é com­paixão. Eu lhe imploro, deixe-me transportá-lo rio acima.
A resposta foi outra pedrada. Então o primogênito virou-se e saiu. O irmão mais jovem estava esperando junto ao fogo, quando o primogênito retornou.
— Os outros não vêm?
— Não. Um preferiu indultar-se; o outro, julgar; e o terceiro, traba­lhar. Nenhum deles escolheu nosso pai.
— Então eles permanecerão aqui?
O primogênito balançou a cabeça devagar.
— Por enquanto.
— E nós voltaremos ao pai? — indagou o mais novo.
— Sim.
— Ele me perdoará?
— Teria ele me enviado, se não fosse assim?
E então, o mais jovem subiu nas costas do primogênito, e iniciaram a jornada para o lar.
***
Todos os irmãos receberam o mesmo convite. Cada um teve a opor­tunidade de ser carregado pelo irmão mais velho. O primeiro disse não, preferindo uma choupana de palha à casa de seu pai. O segundo disse não, preferindo analisar os erros de seu irmão, em vez dos seus próprios. O terceiro disse não, achando que seria melhor causar uma boa impressão que fazer uma confissão honesta. E o quarto disse sim, escolhendo a gratidão em lugar da culpa.
“Serei indulgente comigo mesmo” — resolveu um dos filhos. “Compararei os outros a mim mesmo” — optou o outro.
“Eu mesmo serei o meu salvador” — determinou o terceiro. “Confiar-me-ei a você” — decidiu o quarto.
Posso fazer-lhe uma indagação crucial? Lendo sobre esses irmãos, qual deles descreve seu relacionamento com Deus? A exemplo do quar­to filho, você tem reconhecido sua incapacidade de fazer sozinho a jornada para o lar? Você tem aceitado a mão estendida de seu Pai? Você está preso nas garras da sua graça?
Ou você tem agido como um dos outros três filhos?
Um hedonista. Um judicialista. Um legalista. Iodos ocupados con­sigo mesmos, rejeitando o pai. Paulo discorre sobre esses três nos pri­meiros três capítulos de Romanos. Demos uma olhada em cada um.

O Hedonista Construtor de Cabanas
Romanos 1.21-32
Você pode identificar o construtor de cabanas? Ele troca sua paixão pelo castelo por um amor da planície. Em vez de ansiar pelo lar, deci­de-se por uma cabana. A meta de sua vida é o prazer. Essa é a definição de hedonismo, e tal é a prática desse filho.
O hedonista dirige sua vida como se não houvesse pai em seu pas­sado, presente, ou futuro. Talvez haja existido um pai em algum lugar, nalgum passado remoto, a muito tempo atrás... mas e quanto ao aqui e agora? O filho viverá sem ele. Talvez haja, num futuro distante, um pai que venha e o reclame, mas e quanto a hoje? O filho tocará a vida ao seu próprio modo. Em vez de apropriar-se do futuro, ele satisfaz-se com o presente.
Paulo tinha tal pessoa em mente, quando disse “E mudaram a gló­ria do Deus incorruptível em semelhança de imagem de homem cor­ruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis... e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamen­te” (Rm 1.23, 25). Os hedonistas fazem pobres permutas; trocam man­sões por choupanas, e o irmão por um estranho. Trocam a casa do pai por um gueto na ladeira, e mandam embora o irmão.
MAPEANDO A PARÁBOLA

O Hedonista Construtor de Cabanas
Romanos 1.18-32
O Judicialista
Censor
Romanos 2.1-11
Estratégia
Indulgente comigo mesmo
Comparar a mim mesmo
Meta
Satisfazer minhas paixões
Monitorar meu vizinho
Descrição
Amante do prazer
Dedo-duro
Personalidade
Boa-vida
Orgulhoso
Auto-análise
Posso ser mau, mas e daí?
Posso ser mau, mas sou melhor que...
Teologia
Descuidado de Deus
Tentar distrair a Deus
Grande lema
“A vida é curta. Divirta-se.
Deus está de olho em você, e eu também
Queixa
Não posso folgar o bastante.
Não poso ver o bastante
Animal favorito
Gato
Cão de guarda
Gasta tempo olhando
O menu de opções
A cerca do vizinho
Visão da graça
Quem, eu?
Sim, você!
Visão do pecado
Ninguém é culpado
Ele é culpado.
Ética de trabalho
O que eu faço é da minha conta.
O que você faz é da minha conta.
Expressão favorita
Viva a vida!
Endireite-se!
Limites
Se lhe parece agradável, faça-o.
Se lhe parece agradável, não o faça.
Condição
Enfadado
Amargo
Pronunciamento de Paulo
Você não tem desculpas para as coisas que faz.
Você não tem autoridade para julgar.
Verso chave
“Deus os entregou às concupiscências do seu coração” (Rm 1.24)
Portanto és inescusável quando julgas, sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas, fazes o mesmo

MAPEANDO A PARÁBOLA
O Legalista Amontoador de Pedras
Romanos 2.17-3.20
O Cristão Conduzido Pela Graça
Romanos 3.21-25
Salvar a mim mesmo
Confiar-me a Cristo
Avaliar meus méritos
Conhecer meu pai
Sobrecarregado
Amante de Deus
Estressado
Sereno
Posso ser mau, mas se eu trabalhar duro...
Posso ser mau, mas sou perdoado.
Subornar Deus
Busca de Deus
Eu devo. Eu devo, e vou trabalhar.
Não sou perfeito, mas sou perdoado.
Não posso trabalhar o bastante.
Não posso agradecer-lhe o bastante.
Castor
Águia
A lista de exigências
A abundância das bênçãos divinas
Eu, não!
Sim, eu.
Eu sou sempre culpado.
Eu era culpado.
O que Deus requer, eu faço.
O que Deus faz é da minha conta.
Ao trabalho!
Obrigado!
Se lhe parece agradável, interrompa-o.
Se lhe parece agradável, examine-o.
Exausto
Agradecido
Você não tem solução para o seu problema.
Você não tem porque temer.
“Àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo graça, mas segundo a dívida” Rm 4.4,5
“Mas o justo viverá da fé” Rm 1.17

O Judicialista Acusador
Romanos 2. 1-11
A proposta do segundo filho era simples: Por que tratar de meus próprios erros, quando posso enfocar os erros alheios?
Ele é um judicialista. Eu posso ser mau, mas desde que consiga encontrar alguém pior, estou salvo. Ele alimenta sua benevolência com as faltas de outrem. Se auto indica como o queridinho do professor na escola primária. Tagarela sobre o trabalho malfeito dos outros, esque­cendo-se do zero em sua própria folha. Ele é o cão de guarda da vizi­nhança, mandando as pessoas porem em ordem as suas vidas, mas nunca notando o lixo em sua própria calçada.
“Venha, Deus, deixe-me mostrar-lhe as más ações de meu vizinho” — convida o moralista. Deus, porém, não o segue até o vale. “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas, fazes o mesmo” (Rm 2.1). Esse é um golpe baixo, e Deus não cairá nele.
O Legalista Amontoador de Pedras
Romanos 2.17-3.20
E então, vamos ao irmão do rio. Ahhh, aqui está um filho que nós respeitamos. Diligente. Industrioso. Zeloso. Enérgico. Aqui está um companheiro que enxerga os próprios pecados, e propõe-se a resolvê-los sozinho. Sem dúvida, ele merece nossos aplausos. Seguramente, é digno de imitação. E, mais certo ainda, é merecedor da misericórdia paterna. Não irá o pai escancarar as portas do castelo, quando vir o quão duro este filho tem trabalhado para chegar ao lar?
Sem ajuda do pai, o legalista está tentando resolver a pendência e vadear o rio da falta. Certamente, o pai ficará feliz em vê-lo. Isto é, se o pai o vir.
Note bem, o problema não é a afeição do pai, mas a força do rio. O que puxou o filho para longe da casa paterna não foi um regato suave, mas uma tempestuosa corrente. Seria o filho suficientemente forte para construir um caminho, rio acima, para a casa do pai?
Duvidoso. Nós, certamente, não conseguiríamos. “Não há um jus­to, nem um sequer” (Rm 3.10). Oh, contudo, nós tentamos. Não amon­toamos pedras num rio, mas fazemos boas obras na terra. Nós pensamos: Se eu fizer isto, Deus me aceitará. Se eu der aula na Escola dominical... e pegamos uma pedra. Se eu for à igreja... e colocamos a pedra no rio. Se eu der este dinheiro... outra pedra. Se eu aturar o livro do Max Lucado... dez grandes pedras. Se eu ler minha Bíblia, tiver a opinião correta sobre a doutrina cer­ta, se eu participar desse movimento... pedra sobre pedra, sobre pe­dra.
O problema? Você pode dar cinco passos, restam porém cinco mi­lhões à frente. O rio é longo demais. O que nos separa de Deus não é um córrego raso e manso, mas uma caudalosa corrente, uma cachoei­ra, um opressivo rio de pecados. Nós ajuntamos, amontoamos e empilhamos, apenas para descobrir que mal podemos pisar, muito menos progredir.
O impacto sobre os amontoadores de pedras é notadamente previ­sível: desespero ou arrogância. Eles desistem, ou tornam-se orgulho­sos. Pensam que jamais o farão, ou acreditam-se os únicos capazes de fazê-lo. É estranho como duas pessoas podem olhar para as mesmas pedras amontoadas, e uma pender a cabeça, enquanto a outra estufa o peito.
Tal condição pode ser chamada de ateísmo religioso. Este é o lema por trás do ousado pronunciamento de Paulo: “Somos todos pecado­res, cada um de nós, afundando no mesmo barco com todos eles” (Rm 3.19).
Ímpio ou Piedoso?
Que trio, não!
O primeiro, num banquinho rústico.
O segundo, na cadeira do juiz.
O terceiro, no banco da igreja.
Embora possam parecer diferentes, há muita semelhança entre eles. Todos estão separados do pai. E nenhum está pedindo ajuda. O pri­meiro é indulgente com a própria paixão; o segundo monitora seu vizinho; e o terceiro confia nos próprios méritos. Auto-satisfação. Auto-justificação. Auto-salvação. A palavra operante é auto. Auto-suficiente. “Não se importam com Deus, nem tampouco com o que Ele pensa deles” (Rm 3.18 BV)
A palavra usada por Paulo é ateísmo (Rm 1.18). A palavra define a si própria. Uma vida desprovida de Deus. É mais que desdenhar a Deus; é descuidar de sua existência. O desdém ao menos admite sua presen­ça; o ateísmo, não. Enquanto o desdém leva o povo à irreverência, o descuido o faz agir como se Deus fosse irrelevante, como se ele não contasse na jornada.
Como Deus responde aos ímpios? Por certo, não frivolamente. “Por­que do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1.18). Paulo não aliviou. Deus está justamente irado com as ações de seus filhos.
Posso desde já prepará-lo: os primeiros capítulos de Romanos não são exatamente otimistas. Paulo dá-nos as más notícias, antes das boas. Eventualmente, ele nos dirá que somos todos candidatos à graça, mas não antes de provar que somos todos, desesperadamente, pecadores. Temos de ver a desordem em que estamos, antes de apreciar o Deus que temos. Antes de recebermos a graça de Deus, devemos entender a sua ira.

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