terça-feira, 10 de maio de 2011

Discípulos em Oculto?

Discípulos em Oculto?


“Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente… E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite…” (João 19:38a;39a).

É um tanto intrigante a colocação que o evangelista João faz acerca de Arimatéia e Nicodemos. Esses dois homens tinham grande influência na época e não assumiram sua apreciação por Jesus.

Acompanhavam o ministério de Cristo, presenciaram curas, ouviram seus ensinamentos, mas à surdina, na penumbra. Não tinham coragem de se expor e serem chamados de discípulos de um filho de carpinteiro da Galiléia que saia por aí dizendo que era O Filho de Deus!

Acho bastante interessante como essa situação se aplica a uma multidão de “Arimatéias” e “Nicodemos” que conseguem manter duas identidades, dois linguajares, dois disfarces. À semelhança desses dois homens piedosos, e aqui não quero comentar e nem julgar a atitude de serem discípulos em oculto, mas apenas aproveitar a inspiração do texto para fazer uma comparação com os dias de hoje, muitos se dizem discípulos de Jesus, mas sem dar qualquer evidência àqueles que estão ao seu redor.



A questão é: como pode a luz não iluminar? Como pode o sal não salgar? É um tanto paradoxal afirmar que somos discípulos, mas ao mesmo tempo mantermos uma postura tão alheia a essa questão, que não fazemos qualquer diferença. Jesus disse que se o sal se tornar insípido, para nada mais presta a não ser para ser lançado fora e ser pisado pelos homens (Mateus 5.13). Muitos que se dizem discípulos de Jesus não têm capacidade de dar sabor e muito menos de iluminar, pois estes mesmos não passaram por uma experiência verdadeira.



Veja, Nicodemos, um homem respeitado e estudioso da lei, ou seja, um intelectual da época, versado em teologia, filosofia, línguas etc, foi até Jesus em certa ocasião à noite (João 3). Como é isso mesmo? De dia no meu trabalho eu “pinto o sete” e à noite eu coloco a bíblia debaixo do braço e assumo uma aparência religiosa? Aquele que está com sua vida sintonizada em Deus, procura fazer as suas obras em pleno dia: “Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras” (João 3:20), “porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas” (1 Ts 5:5). Não estou me referindo a pessoas que dão duro o dia todo e que aproveitam a noite para irem à igreja, ou à célula etc, e muito menos aos nossos irmãos heróis nos países onde o Evangelho é ilegal e que, por amarem Jesus, sofrem represália por parte das autoridades. Refiro-me àqueles que não querem ser identificados como discípulos, aqueles que não querem ser vistos andando com Jesus quando tem a escolha de fazê-lo.



Arimatéia, diz a Bíblia, “esperava o reino de Deus” (Marcos 15.43), mas mesmo assim não tinha coragem de manifestá-lo. É triste que muitos queiram desfrutar o Reino, viver as bênçãos do Reino, assentar-se no Reino, mas não estão dispostos a assumirem suas identidades de cidadãos desse Reino. O verdadeiro discípulo de Jesus espera pelo Reino, mas também se coloca como canal para a manifestação dele nessa terra. A questão é que muitos esperam apenas um reino que será manifestado na vida pós-morte. Vivem uma vida desgraçada nessa terra à espera de um porvir que mudará tudo, enquanto poderiam viver uma vida plena de satisfação espiritual e cheia do Espírito e de gozo celeste. Vida eterna é a qualidade de vida que podemos desfrutar no hoje, afinal de contas no momento em que aceitamos a Jesus como Senhor e Salvador, já entramos na dimensão da plenitude da bênção de Cristo (Ef 1.3). Esperar o reino não é tudo. Essa atitude passiva não nos fará mudar de vida e muito menos a de outros ao nosso redor. Precisamos buscar e nos empenhar pela manifestação do Reino de Deus nessa terra e em nossa geração.



Um outro caso é o de Pedro, discípulo assumido de Jesus, mas que em um dado momento tenta esconder-se para não ser notado pelas pessoas. Não sei o que é mais triste, passar a vida servindo secretamente, ou andar ao lado de Jesus e negar o Seu nome. Por mais que Pedro quisesse se disfarçar, assentando-se à roda dos escarnecedores naquela fogueira, não havia como negar: “Você é um deles, porque o teu modo de falar o denuncia” (Mateus 26.73). É vergonhoso esconder-se e mais ainda negá-lo! Pessoas assim passam a vida seguindo Jesus de longe (Lucas 22.54), ou seja, estão sempre mantendo uma “distância de segurança” e sempre prontas a “saírem pela tangente” quando as coisas ficam apertadas. São discípulos por conveniência e que não estão dispostos a carregar a cruz.



Lembre das palavras de Jesus: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte” (Mateus 5:13,14). Entendamos que no reino de Deus não existe a figura do “agente secreto de Cristo”, mas de luzes que brilham tão intensamente que é impossível esconder o seu fulgor. Não há como colocar sal na panela e a comida não ser temperada. Brilhar e salgar é algo tão natural ao verdadeiro discípulo, quanto uma semente de manda gerar uma mangueira, porque está dentro de nós essa essência!



Fujamos à mentalidade de “discípulos secretos” e busquemos anunciar ao mundo nosso amor pelo Senhor. Que sejamos esses apaixonados que não escondem sua devoção ao Senhor que deu Sua própria vida por nós. Que, a exemplo daqueles jovens na Babilônia, nossa vida seja tão discrepante do mundo que não haja como nos confundir com aqueles que se curvam diante do desse sistema.

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